O país anfitrião da COP30 é a maior nação da América do Sul e, com um produto interno bruto nominal de cerca de US$ 2,13 biliões, está entre as dez maiores economias do mundo. Cerca de 212 milhões de pessoas vivem neste país continental, 88% delas em áreas urbanas. A economia continua a crescer, apesar da incerteza global, mesmo que as alterações climáticas estejam claramente causando estragos.
Tobias Grimm, especialista em clima da Munich Re, explica:
“No Brasil, os efeitos das alterações climáticas estão aparecendo como se estivessem sob uma lupa. O calor está aumentando, as secas estão tornando-se mais frequentes e as chuvas intensas são seguidas por inundações. Essa alternância entre secas e chuvas intensas está se tornando uma nova realidade. Aqueles que não tomarem precauções agora correm o risco de colocar as pessoas e a natureza de joelhos.”
As Nações Unidas sublinham a importância dessa economia emergente e populosa na proteção climática global: “A vasta floresta tropical do Brasil e os seus diversos ecossistemas são de importância fundamental para a saúde do planeta”, afirma uma análise da Sociedade Alemã para as Nações Unidas.
No entanto, o desmatamento contínuo da região amazônica e das savanas húmidas, os Cerrados, no sudeste do interior do país está ameaçando o ambiente. Isso tem consequências de longo alcance para o abastecimento de água do Brasil: nas áreas desmatadas, as temperaturas aumentam, o solo racha e armazena menos água. Isso perturba o ciclo hidrológico nacional, pois a floresta tropical retém grandes quantidades de umidade que podem evaporar novamente durante os períodos de seca. Grandes zonas de chuva – conhecidas como “rios voadores”, se formam e transportam a precipitação para o centro e o sul da América do Sul. Essas chuvas são uma fonte vital de água para as metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro.
Uma dupla destrutiva – seca e inundações
A intervenção humana e a influência das alterações climáticas estão a desequilibrar cada vez mais a natureza. Os recordes negativos falam por si: em 2024, o estado mais ao Sul do Brasil, Rio Grande do Sul, sofreu as piores inundações do Brasil em décadas, entre o final de abril e o início de maio. Em algumas áreas, caíram cerca de 500 milímetros de chuva em poucos dias. Mais de dois milhões de pessoas foram afetadas pelo desastre e 200 perderam a vida. As perdas econômicas são estimadas em cerca de US$ 15 bilhões (ajustadas pela inflação), dos quais menos de US$ 1 bilhão estava segurado.
Quase simultaneamente, uma seca que durou meses persistiu no Norte, afetando, em alguns momentos, cerca de 60% do Brasil. Isso também causou prejuízos na casa dos bilhões, e as quebras das safras repercutiram no mercado global.
O Brasil é o maior produtor da variedade de café Arábica. Afetados pela seca no Brasil e, do outro lado do globo, no Vietnã, os preços do café praticamente duplicaram ao longo de 2024.
A elevada participação da agricultura, 6,5% da produção econômica do Brasil torna o país particularmente vulnerável aos impactos do clima extremo. Inundações e secas destroem as colheitas. O risco de seca existe em todo o país, enquanto o risco de inundações é maior no Sudeste. O abastecimento de energia também é afetado por condições climáticas extremas. O Brasil é muito rico em água, com 12% das reservas mundiais de água doce. 60% da eletricidade do país é gerada em usinas hidrelétricas. No entanto, as reservas de água estão diminuindo constantemente.
Tobias Grimm avalia as perdas económicas causadas por condições meteorológicas extremas:
“Desde 1980, os desastres naturais no Brasil, excluindo as perdas por secas, difíceis de quantificar, causaram prejuízos econômicos ajustados pela inflação de cerca de US$ 43 bilhões. Apenas pouco mais de 5% desse valor estava segurado”, explica.
“Desde então, a lacuna no seguro diminuiu apenas ligeiramente. Mais de 80% das perdas totais foram causadas por inundações, enquanto as secas também causam regularmente danos no valor de milhares de milhões.”
No Brasil, as temperaturas estão subindo mais rapidamente do que a média global, 0,17 °C por década desde 1950. Desde a década de 1970, essa tendência acelerou para 0,27 °C por década. O número de dias quentes está aumentando. Isso desencadeia um ciclo vicioso: temperaturas mais altas levam a uma maior evaporação, resultando em períodos de seca mais longos, mas também em chuvas mais intensas. Estudos sobre os eventos extremos de 2024 descobriram que as alterações climáticas tornaram tais ocorrências significativamente mais prováveis e mais intensas.
Devido ao seu tamanho, localização geográfica e topografia, o Brasil abrange várias zonas climáticas. O equador atravessa o Norte, dando à maior parte do país um clima tropical; o Sul é subtropical a temperado. Em todo o país, o padrão climático ENSO (El Niño/Oscilação Sul) no Oceano Pacífico, com as suas duas fases opostas, El Niño e La Niña, tem uma forte influência nos extremos climáticos, de maneiras muito diferentes. As fases do El Niño, como em 2024, tendem a intensificar as chuvas no Sul do Brasil e a agravar as secas no Norte.
Durante as fases de La Niña, o padrão se inverte: o Sul enfrenta maior risco de seca, enquanto o Norte recebe mais chuvas. Pesquisas recentes afirmaram que a flutuação do ENSO mudou para condições de La Niña, que provavelmente persistirão até dezembro de 2025 e fevereiro de 2026.
O ENSO é a flutuação climática com a influência mais forte sobre os extremos climáticos em muitas partes do mundo, embora seus efeitos sejam cada vez mais amplificados pelas mudanças climáticas.
As alterações climáticas exigem novas estratégias
Lacuna do seguro, um risco com consequências
Essa lacuna do seguro tem consequências graves: as pessoas afetadas muitas vezes têm dificuldade para reconstruir suas vidas. As pessoas que vivem em comunidades desfavorecidas, cerca de 8,1% da população brasileira, estão particularmente expostas a riscos naturais. As empresas enfrentam a ruína e o Estado deve intervir com ajuda financeira para a reconstrução. Por isso, os especialistas apelam a uma maior difusão dos seguros contra catástrofes naturais e a incentivos governamentais para tornar os prêmios mais acessíveis. São necessárias novas abordagens para reforçar a resiliência às catástrofes naturais. Os especialistas defendem incentivos estatais, tais como subsídios ou modelos de microsseguro para tornar a cobertura mais acessível. Também está sendo discutido o seguro obrigatório contra determinados riscos, como já é considerado em outros países. A cooperação internacional, por exemplo com a GIZ e o KfW, apoia o Brasil na criação de sistemas de gestão de riscos e no desenvolvimento de mecanismos de financiamento sustentáveis.
A lacuna do seguro continua a ser uma questão central para o futuro do Brasil, não só economicamente, mas também socialmente. Quem não tem seguro é muitas vezes deixado à sua sorte em caso de catástrofe.
Munich Re reforça a resiliência climática no Brasil
Tobias Grimm está convencido:
“O Brasil enfrenta o desafio de desenvolver medidas de proteção de curto prazo e estratégias de longo prazo para um país dividido entre inundações e secas.”
Com sua solidez financeira e capacidade confiável, a Munich Re está pronta para ajudar a fechar a lacuna de seguros para catástrofes naturais no Brasil. A resseguradora analisa os efeitos das mudanças climáticas sobre os riscos naturais há mais de cinco décadas, um negócio central baseado em expertise de risco líder de mercado. Após as graves inundações de 2024, a Munich Re desenvolveu uma avaliação de risco localizada que capta as vulnerabilidades com mais precisão e permite uma precificação adequada ao risco. Isso permite que soluções de seguro sejam oferecidas de forma direcionada e confiável.
As coberturas paramétricas são particularmente adequadas para proteção simples e acessível. Elas pagam automaticamente quando limites definidos, por exemplo, quantidade de chuva, velocidade do vento ou duração da seca, são excedidos. Esse princípio também é usado em pools internacionais de catástrofes.
Um exemplo disso é o Fundo de Seguro contra Riscos de Catástrofes do Caribe (CCRIF), através do qual 23 países do Caribe e da América Central receberam um total de US$ 390 milhões após 78 eventos desde 2007. A Munich Re é uma das principais seguradoras desse fundo. Após a passagem devastadora do furacão Melissa pela Jamaica, o CCRIF anunciou que faria um pagamento de US$ 70,8 milhões ao governo da Jamaica. Além disso, o governo deve receber um segundo pagamento do CCRIF ao abrigo da sua apólice de excesso de precipitação. A Jamaica foi um dos membros fundadores do CCRIF quando este foi criado em 2007.
Especialistas
Soluções relacionadas
Newsletter
properties.trackTitle
properties.trackSubtitle